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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Eclipse lunar.

Na madrugada de hoje a Lua eclipsou. Fenômeno que eu não vi, estava eclipsado dormindo. Mas soube pela mídia. Lindo, radiante, místico, apaixonante e enigmático (não tanto mais nos dias de hoje) foram adjetivos recebidos pelo fenômeno natural (!?)
O que me motivou a postar este tópico, foi a percepção de como a humanidade muda em sua relação com o mundo. Em séculos passados o mesmo fenômeno seria motivo de desespero, pois poderia muito bem ser entendido como sinal dos deuses de que as trevas predominariam sobre a Terra! Poderia ser visto, ainda, como agouro.
Hoje, recebeu aplausos! Foi considerado influência para os apaixonados e motivo de aprendizagem para as crianças que moram nas grandes cidades e/ou em residências verticalizadas.
Seria o eterno deus-mudança em manifestação? Ou apenas o ser humano perplexo diante da magnificência do mundo e da natureza? Ou ainda, o reconhecimento de em pleno século XXI muitos ainda estão ignorantes quanto ao mundo em que vivem?
O mais importante é que o fenômeno foi lindo, mesmo sendo visto pela tela da TV.
Rogério Andrade

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Filhote de mucura


Hoje não vou escrever, vou colocar uma imagem....


Para quem não conhece, este animal não é um rato, mas um parente próximo. Nós maranhenses o chamamos de mucura...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Filosofia: problema de origem e conceituação

Tanto em termo, quanto em conceito, a Filosofia é uma produção tipicamente grega. Enquanto termo, é composta por duas outras palavras gregas philos e Sophia. A primeira derivando de Philia e significando amizade, amor fraternal. A segunda denotando sabedoria. Assim, o termo philosophia pode ser traduzido como: amizade à sabedoria ou amor à sabedoria, sendo o amante do saber um philosopho.
Enquanto conceito, a filosofia é entendida como “aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causa das ações humanas e do próprio pensamento.” E, desse modo, aparece pela primeira vez na região da Ásia Menor, na Grécia.
Evidentemente, não se trata de afirmar que outras culturas e povos, principalmente os Orientais, não possuíam um saber. Trata-se de reconhecer as características próprias desse novo saber dentro do contexto sócio-político específico do mundo Grego, o que permite apontar uma superioridade do mesmo em relação a outros povos neste ponto específico.
Embora outros setores componentes do povo grego possuíssem correspondências junto aos demais povos do Oriente, que alcançaram um nível elevado de civilização antes deles, no que se refere à Filosofia, não encontramos nada que se assemelhe àquilo que floresceu nas colônias da Ásia menor. Mas, não há tampouco nada que lhe seja estreita e especificamente análoga.
Não faltaram tentativas de aproximar, e até situar, a origem da Filosofia no Oriente. Tais tentativas, entretanto, esbarram em uma série de provas contrárias à tal tese orientalista do surgimento da Filosofia.
Uma primeira tese diz respeito aos registros históricos. Não há, na época clássica da Filosofia, nenhum acesso dos filósofos ou historiadores à pretensa origem da Filosofia no Oriente. Algumas tentativas realizadas por filósofos gregos da Era Cristã, mais buscavam justificar uma legitimação de si diante dos cristãos, já que haviam perdido a confiança na visão clássica de Filosofia.
É bem verdade, a história confirma este fato, que os povos orientais possuíam uma sabedoria. Uma forma análoga ao conhecimento dos gregos sobre o Homem e o Mundo. No entanto, era feita de convicções mítico-religiosas e cosmogônicas e não uma sabedoria fundamentada na razão pura, como denominada pelos gregos de logos, portanto, anterior à Filosofia.
Considerando que algumas idéias dos filósofos gregos possam ter antecedentes na sabedoria oriental, isto não mudaria o fato de que, com efeito, ao surgir na Grécia, a Filosofia representou uma forma nova de expressão espiritual que, mesmo acolhendo outras formas espirituais, as modificava dando-lhes uma estrutura formal e rigorosamente lógica. Por outro lado, não temos conhecimento da utilização pelos pensadores regos, de quaisquer escritos orientais ou traduções desses na composição de um pensamento filosófico.
Como sabemos, os gregos utilizaram algumas referências “científicas” provenientes dos Orientais. Dos egípcios, alguns conhecimentos matemático-geométricos. Dos babilônios, algumas concepções astronômicas. Embora carregados de conteúdos, de uma certa sabedoria, tais conhecimentos “científicos” possuíam caracteres eminentemente práticos , voltados apenas para soluções cotidianas sem uma conotação especulativa.
Produzindo um conhecimento com fins práticos, os povos Orientais desenvolveram uma atividade racional no sentido de estabelecerem soluções pensadas para os seus problemas. Entretanto, os gregos transformaram tais noções em uma Teoria geral e sistemática, realizaram uma construção racional e orgânica animados pelo “amor à sabedoria”.
Outros pontos reforçam a tese de nascimento desse novo modo de pensar o mundo tipicamente grego, a Filosofia. No caminho da demonstração dessa afirmação, emergem de modo significativo uma referência à arte, à religião e às condições sócio-políticas grega.
Quanto à arte, a referência limitar-se-á aos poemas épicos devido à importância que têm na educação e formação espiritual do homem grego. Os poemas homéricos, principalmente a Ilíada e a Odisséia, embora com uma concepção pré-filosófica, mítica, tratam a narrativa imaginária levando em conta um sentido de harmonia, de proporção, de limite e de medida, o que seriam posteriormente elevados pela Filosofia à condição de Princípios Ontológicos. Os poemas não se limitam a narrar os acontecimentos, mas pesquisam nos fatos suas causas e suas razões, o que desencadeará filosoficamente na busca da “causa”, do “princípio” e da “arché”. Por fim, procuram apresentar a realidade em sua inteireza, embora de maneira mítica; a Filosofia o fará pelo modo racional.
Hesíodo em sua Teogonia, também contribuiu para a formação de uma espiritualidade única na História. A narrativa sobre a origem dos deuses, coincide com uma narrativa da origem dos fenômenos, do Cosmo (Universo), isto é, com uma Cosmologia. Os deuses e fenômenos se confundem entre si, pois a gênese do Cosmo a partir do Caos, narrada de forma mítico-poética, aplaina as bases para uma cosmologia filosófica que busca no “princípio primeiro”, explicado pela razão, a origem de tudo o que existe.
Quanto à Religião, ao situarmos o contexto grego antigo, é preciso distinguir as esferas religiosas existente, isto é, distinguir entre a religião pública e a religião dos mistérios. Ambas, com seus pontos dissidentes e concordantes, têm importância na solução da questão referente à origem da filosofia, contudo, a religião dos mistérios tende a ser mais relevante do que a religião pública.
Estabeleçamos a relação. A religião pública, que tem como ponto inicial de crenças os poemas de Homero e de Hesíodo, parte do princípio de que tudo é divino, tudo o que ocorre é explicado em função da vontade dos deuses, desde os fenômenos naturais até a realidade da vida social dos homens. A fundamentação de tudo é encontrada na intervenção panteísta de que os deuses se encontram em tudo. Os deuses são entendidos, na verdade, como forças naturais personificadas ou aspectos dos homens sublimados. São, neste sentido, homens amplificados e idealizados, diferindo dos deuses apenas em quantidade. A natureza humana e a natureza divina, confundem-se e diferenciam-se entre si de modo quantitativo e não qualitativo, onde a primeira realiza-se se elevando a si mesma. A religião pública é caracterizada por um naturalismo, assim como foi a filosofia pré-socrática.
Nem todos os gregos consideravam a religião pública suficiente. Assim, desenvolveu-se em círculos restritos, a religião dos mistérios que tinha como principal influência na filosofia grega os “mistérios órficos”. O orfismo tem particular importância porque introduz na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova interpretação da existência humana. Como núcleo central, destacamos: a) o homem possui um princípio divino, a alma, hospedado em seu corpo; b) essa alma, além de preexistir ao corpo, está destinada a reencarnar-se a fim de expiar a culpa do “pecado origina”; a vida “órfica” é o único caminho para pôr fim às reencarnações; d) para os iniciados nos mistérios, há um premio no além, para os não-iniciados, uma punição.
Esse novo esquema de crenças introduz a concepção de homem fragmentado por dois princípios em contraste e luta: a alma, como elemento divino que precisa ser justificado, e o corpo, como lugar para expiação da alma. Rompe-se a visão Naturalista: algumas tendências do corpo devem ser reprimidas e a purificação da alma torna-se o objetivo de viver.
Como última observação quanto à religião, cabe destacar o fato de que os gregos não tiveram livros sacros considerados frutos de uma revelação divina, por conseguinte, não possuíam uma dogmática fixa e imutável, e muito menos uma classe sacerdotal custódia do dogma. A inexistência desses fatores permitiu uma ampla liberdade para o pensar filosófico.
A liberdade da qual os gregos se beneficiaram, diz respeito também à liberdade política. Aqui, podemos começar a destacar as condições sócio-políticas e econômicas que favoreceram o surgimento da Filosofia. É bem verdade que nos Séculos VII a VI a.C. a Grécia passou por profundas transformações socioeconômicas: de país predominantemente agrícola, passou a desenvolver uma produção industrial e comercial, o que levou à criação de centros comerciais, surgidos, primeiramente, nas colônias Jônicas, particularmente Mileto, e, posteriormente, em outros lugares, principalmente Atenas.
Com o surgimento da Pólis, Cidade-estado, e o seu desenvolvimento, o novo segmento social, formado pelos comerciantes e industriais artesanais, começa a questionar e se opor em relação à aristocracia fundiária e erigir um novo modo de vida pública fundado, não mais na virtude guerreira, mas na virtude civilizadora do homem que fundou a Pólis. Esse novo sentimento deu ao espírito grego um impulso do qual a ciência não poderia ficar de fora. A vida pública abria caminho para a ciência.
A constituição da Pólis veio encarnar a concepção do homem como cidadão. É no debate público que o homem se realiza essencialmente, aqui ele coincide com o cidadão e o Estado tornou-se o se horizonte ético. Desenvolver e aprimorar o Estado significa preparar o cidadão (o homem) para enfrentar a sua nova realidade. Aqui, mas do que nunca, o logos, a palavra racional torna-se imprescindível. A Filosofia começa a vislumbrar o seu sucesso como constituinte fundamental da formação da cidade e de seus ocupantes, pois irá permitir o debate e a construção racional dos mesmos.
Realizadas tais considerações quanto ao problema da origem da Filosofia, descreveremos a questão do problema da conceituação grega da Filosofia.
Etimologicamente o termo Filosofia significa “amizade à sabedoria” ou “amor à sabedoria” denotando uma busca incessante. Mas, substancialmente, o que entendiam os gregos por essa amada e buscada “sabedoria”?
Desde o seu nascimento a Filosofia possui três conotações claras e dizem respeito a) ao seu conteúdo, b) ao seu método e c) ao seu objetivo.
Quanto ao conteúdo, a Filosofia pretende dar uma explicação à totalidade das coisas, à realidade em sua totalidade. Para tanto, o questionamento dos primeiros filósofos, a saber, “Qual é o princípio de todas as coisas?”, traz como objeto de investigação filosófica a proposta de compreensão da totalidade da realidade e do Ser e, precisamente, descobrindo-se o primeiro princípio encontra-se a totalidade da realidade e do Ser.
No que concerne ao método, a busca daquela totalidade a qual a filosofia tem como objeto, é realizada por um caminho puramente racional. O que vale á a fundamentação baseada no logos, no argumento e na razão. Não basta a constatação dos fatos, é preciso encontrar as causas precisamente através da razão.
Por fim, o objetivo da Filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. É amor desinteressado pela Verdade. Embora não tenha objetivos práticos, utilitaristas, a Filosofia não se realiza como algo vazio e sem sentido. Ela possui uma enorme relevância moral e política. A contemplação do mundo carrega consigo mudanças de valores e de visão do mundo e do próprio homem, trazendo um novo significado para a vida e para o próprio homem.
O filosofar tem sua origem marcada pela admiração do homem diante de si e do mundo, diante de toda a totalidade. Sendo assim, a filosofia é irrenunciável e inapagável, pois não se pode extinguir a admiração diante do Ser, nem se pode renunciar à necessidade de satisfazê-la. Enquanto o homem maravilhar-se diante do Ser das coisas e do seu próprio ser, a Filosofia permanecerá.
José Rogério de Pinho Andrade

A Democracia: sentido conceitual.

O termo democracia no entendimento do lingüista Antônio Houaiss, recebe as seguintes conotações:
1) governo do povo, governo em que o povo exerce a soberania; 2) sistema político cujas ações atendem aos interesses populares, 3) governo no qual o povo toma as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade, 4) sistema político comprometido com a igualdade ou com a distribuição eqüitativa do poder entre todos os cidadãos, 5) governo que acata a vontade da maioria da população, embora respeitando os direitos e a livre expressão da maioria. (HOUAISS, 2001, p. 935)
O entendimento do termo se configura numa complexidade devido à quantidade de dados a que se refere. Por decorrência, a democracia é um sistema político de governo, isto é, envolve uma organização do poder que exige a participação daqueles a quem se dirige o poder. Não pode se apresentar de forma efêmera, isto é, espera-se que haja uma continuidade em sua prática, pois somente assim é possível o estabelecimento da participação do povo, pois demanda um exercício do debate decisório, bem como vivencia e maturação da lei. Esta, por sua vez, na pretensão de sua validade universalidade, deve atender a vontade da maioria, mas não pode relevar a livre expressão da minoria.
Por isso, compreende-se logo, que oferecer, com propriedade, uma definição categórica e concludente do termo "democracia" não se constitui tarefa de estreita envergadura, pois, como se sabe, muitos significados têm sido oferecidos a tal termo no transcorrer da história do pensamento humano (Hook, 1987, p.63).
Em seu sentido etimológico, democracia deriva do grego demos (povo) e kratos (para poder, autoridade) – demokratia – de forma que uma reflexão sobre a palavra Democracia tem necessariamente que tomar como ponto de partida seu próprio conceito etimológico de o governo do povo.
Neste contexto, o significado de democracia não pode ser considerado explicitado se não se dá conta do fato de que, além da democracia como forma de governo, quer dizer, democracia como conjunto de instituições, a linguagem política moderna conhece também o significado de democracia como regime caracterizado pelos fins ou valores em direção aos quais um determinado grupo político tende e opera, sendo também uma forma de organização política que reconhece a cada um dos membros da comunidade o direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos.
Não podemos deixar de considerar, a perspectiva jurídica, para a qual a democracia é termo constituinte da própria República, tal como reza a Constituição vigente: "A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito (...)" (CF, art. 1°). De um ponto de vista predominantemente político, embora, é claro, também constitucional, pode-se afirmar que um conceito adequado de democracia é o que diz que ela:
é aquela forma de exercício da função governativa em que a vontade soberana do povo decide, direta ou indiretamente, todas as questões do governo, de tal sorte que o povo seja sempre o titular e o objeto, a saber, o sujeito ativo e o sujeito passivo de todo poder legítimo" (Bonavides, 1996, p. 17).
É, em outras palavras, a vontade do Estado, segundo a qual "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (...)" (CF, art. 1º, parágrafo único). Verifica-se, assim, nas supracitadas definições um ponto nevrálgico do debate, que é o de dividir o modo de efetivação do poder popular nas formas direta e indireta.
Destarte, na sua origem, o conceito de democracia encontra definição razoavelmente pacífica na especificação do regime do demos, "nome pelo qual eram designadas as divisões territoriais administrativas na Grécia antiga" (Azevedo, 1999, p.146), de forma que, "por extensão, tal palavra, originada de demokratia, [ou, no grego, δημοχρατία] passou a significar poder popular, governo do povo" (Azevedo, 1999, p. 145).
Como à tal conclusão não tão facilmente se chega, nota-se que os conceitos de "poder popular" e de "governo do povo" não eram exatamente os que se fazem presentes na contemporaneidade, de forma que se diz que não é senão pela dificuldade de se conceituar o que seria poder popular e, por conseqüência, de se delimitar o governo do povo, que o conceito de democracia tem sofrido os mais diversos significados durante a história.
José Rogério de Pinho Andrade

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A ética Kantiana

A ética kantiana apresenta três objetivos principais:
a) Propor um critério de legitimidade da máxima exclusivamente formal;
b) Defender a autonomia da vontade na experiência moral;
c) Manter que as ações morais são somente aquelas que tenham sido feitas por dever.
A ética formal kantiana se contrapõe à ética material. A matéria do imperativo é o mandado, é a instrução de fazer algo; a forma é o grau de universalidade ou particularidade que tenha o imperativo: sempre, algumas vezes, nunca. Então, a característica essencial da ética kantiana consiste em indicar que uma máxima descreve uma ação moral quando cumpre um requisito puramente formal: que pode ser universalizável. Na ética de Kant não é a matéria da vontade, senão, a mera forma da legitimidade universal de sua máxima que constitui o fundamento da determinação da vontade. Um requisito puramente formal como o da possibilidade da universalização pode servir como critério para separar as condutas em dois grupos: as condutas moralmente boas e as moralmente más. Se a máxima da conduta se pode universalizar, então essa máxima descreve uma ação moralmente boa, em caso contrário é moralmente má.
A autonomia consiste na capacidade que o sujeito tem para dar-se a si mesmo suas próprias leis (e a capacidade para realizá-las). É heterônoma a condição de receber as leis de fora, quando se sustentam em outros fundamentos que não o próprio sujeito, tal como as éticas materiais. Kant considera que somente onde encontramos ação moral podemos encontrar liberdade, pois a conduta é determinada pelo próprio sujeito. Quem nos dá o critério da conduta moral é a nossa própria razão. Não é a necessidade física, nem as exigências de ordem social, política, religiosa ou natural.
Por último, em Kant o fundamento das ações morais é o dever e não a inclinação. O dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei. Não basta que a ação seja praticada em conformidade ao dever, mas sim que a seja por dever. Tal rigorismo implica em duas questões: o dever pelo dever, ainda que seja contrária à felicidade do sujeito e dos seus entes queridos e o caráter universal da bondade ou maldade de uma ação. Deste modo, o dever moral, traduzido pelo imperativo categórico, prescreve uma ação incondicionada, isto é, manda algo de modo absoluto. A ação é declarada necessária sem nenhum propósito extrínseco. Somente o imperativo categórico é imperativo de moralidade.
Estes temas são apresentados em seus livros “Fundamentação da metafísica dos costumes” e “Crítica da Razão Prática´. Na Fundamentação da metafísica dos costumes teremos como objetivo principal “a pesquisa e a determinação do princípio supremo da moralidade” enquanto que na Crítica da razão prática trata-se de mostrar que a razão pura é prática por mesma, ou seja, que ela nos dá a lei em que se alicerça toda a moralidade.
Para os nossos fins, teceremos algumas considerações sobre o que se encontra, principalmente, na Fundamentação da metafísica dos costumes.
A primeira seção trata da passagem do conhecimento racional comum da moralidade ao conhecimento filosófico. Apresenta-se analiticamente o principio supremo da moralidade, do modo como se apresenta à consciência humana. Inicia com a constatação:
“Nem neste mundo nem fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação, a não ser uma coisa: uma boa vontade” (p.21)
Mas o que torna uma vontade boa? A resposta em tom enfático nos diz que “é a própria natureza do querer”. Nada de extrínseco pode qualificá-la como boa. Seria, deste modo, a boa vontade, boa em si mesma.
Mas qual seria o seu conteúdo? Na determinação de seu conteúdo há de se considerar o conceito do dever, pois a boa vontade é a vontade de agir por dever. Não basta que seja em conformidade ao dever, atendendo á legalidade, mister se faz que seja praticada por dever, pois, prático ou moral, é só o que depende direta e exclusivamente da razão.
Opõe-se deste modo os planos da legalidade (conformidade com a lei) e o da moralidade verdadeira, que reside na pureza da intenção.
Então, eis um primeiro princípio: o valor moral de um ato reside na intenção, considerada prescindindo do fim visado, ou seja, considerada unicamente como intenção de fazer o que se deve fazer. Associado a este princípio está um segundo que diz respeito ao querer, isto é, o que importa é somente a regra pela qual o homem pauta a sua ação.
O dever pode, então, ser definido como a “necessidade de cumprir uma ação por respeito à lei”. O único móvel moral é o respeito à lei que ordena cumprir o dever. A boa vontade, somente pode ser determinada pela representação da lei em um ser racional que ordena cumprir o dever.
Por outro lado, em toda lei pode-se observar a forma, isto é, a universalidade do seu preceito, e o seu conteúdo. A ação moral implica em obediência à lei, independente de seu conteúdo e é, por conseguinte, a simples conformidade com a lei geral que constitui o princípio de uma boa vontade. Essencialmente nisto consiste o formalismo kantiano.
Na segunda seção intitulada “transição da filosofia moral popular para a metafísica dos costumes”, veremos o conceito do dever retraçado em seu fundamento a priori.
Apresenta-se que o conceito do dever não é empírico, embora derive do uso comum da razão prática. Decorre isto pelo fato de que a moral não se julga de fora, pois não se pode retirar da experiência o conceito de dever, visto ela não poder dar a ele (o dever) a universalidade e a necessidade que o engrandecem. De outro modo, como o objeto da moral é o ideal, e não o real, a experiência se mostra inócua para extrair-lhe algum sentido.
O dever é uma exigência da razão pura, pois o que o caracteriza e o dignifica é ser uma idéia da razão. Configura-se o rigorismo kantiano quando se compreende que a moral é um ideal que a nossa própria razão nos propõe a priori. Deve-se, pois a moral apoiar-se em uma metafísica como estudo a priori das condições de moralidade.
Constata-se, inicialmente, que o homem é possuidor de uma vontade como ser racional que é. Esta é a faculdade de agir segundo certas regras que se constituem em máximas, quando subjetivas, ou em leis, quando objetivas.
Uma vontade perfeita teria sempre a razão como seu determinante, conformando-se imediatamente às leis racionais. Por esse motivo, é que as leis da razão se apresentam como imperativos.
Dois são os tipos de imperativos: os hipotéticos e os categóricos. O primeiro nos apresentam as ações necessárias para determinados fins, enquanto os segundos nos propõem ações incondicionais, necessárias em si mesmas.
Sendo um só, possui o imperativo categórico a seguinte fórmula geral independente de seu conteúdo:
“age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (p. 51)
Depreende-se desta fórmula que “a essência do imperativo consiste precisamente em sua validade em virtude de sua forma da lei.” (Reale, 2005, p.381) Ela não consiste em ordenar aquilo que devemos querer, mas sim como devemos querer aquilo que queremos.
Esta fórmula evidencia a pura “forma” da lei moral, que é a sua validade sem exceções, ou seja, a sua universalidade. Daí derivam todas as formas do dever. Tendo em conta a sua universalidade, também poderia ser expresso da seguinte forma:
“age como se a máxima da tua ação devesse se tornar pela tua vontade, lei universal da natureza.” (p. 52)
Tendo como fundamento a natureza racional como fim em si mesma, isto é, o homem como sendo o único com um fim em si mesmo, o imperativo categórico será expresso da seguinte forma:
“age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim em si e nunca simplesmente como meio” (p.59)
A terceira formulação do imperativo categórico, semelhante à primeira diferindo no fato de que a primeira destaca a lei e esta destaca a vontade, enfatizando que esta lei é produto de nossa racionalidade e, portanto, depende de nós, diz:
“age segundo uma máxima que contenha ao mesmo tempo em si a sua própria validade universal para todo ser racional.” (p. 68)
Esta terceira formulação supõe a “autonomia” da vontade. Ela nos leva a compreender porque a nossa obediência à lei não se funda na busca de um interesse qualquer: obedecemos à lei porque somos nós mesmos que nos damos a lei. À idéia de autonomia prende-se a idéia de dignidade da pessoa, pois, implica, ao mesmo tempo, a vontade de uma legislação universal e o respeito à pessoa humana que lhe deve dignidade.
Na terceira seção, Kant fará a “transição da metafísica dos costumes para a crítica da razão pura prática” que é a justificativa da possibilidade do imperativo categórico ou da lei moral. A demonstração constitui o objeto próprio da Crítica da razão prática.
Destacam-se os seguintes aspectos:
A liberdade como condição e fundamento da lei moral: a existência da lei moral não tem necessidade de ser justificada ou provada. Ela se põe à consciência como fato da razão, que só pode ser explicado admitindo-se a liberdade. Como conclusão: nós conhecemos, primeiro, a lei moral (o dever) como “fato da razão” e, depois, dela inferimos a liberdade como seu fundamento e como sua condição.
O princípio da autonomia moral e seu significado: ao sentido positivo da liberdade Kant chama de “autonomia”, ou seja, determinar para si a sua própria lei. “Heteronomia” é o seu contrário. Deste modo, liberdade, autonomia e formalismo estão indissoluvelmente ligados. E todas as morais que se baseiam em seus “conteúdos” comprometem a autonomia da vontade. Agindo pelo puro dever, o homem torna-se “digno de felicidade”.
O “bem moral” e sua dimensão universal: o conceito de bom e mau não deve ser determinado antes da lei moral, mas somente depois dela. É a lei que põe e faz ser o bem moral e não vice-versa. É a intenção pura ou a vontade pura que faz ser bom aquilo que ela quer, e não o contrário. Passa-se do formalismo à ação concreta na medida em que, elevando-se a máxima ao plano da universalidade, ficamos em condições de reconhecer se ela é moral ou não.
O “rigorismo” kantiano se apresenta na condição de que não basta que uma ação seja feita segundo a lei, em conformidade com a lei. Para ser moral, a vontade que está na base da ação deve ser determinada “imediatamente” só pela lei. A lei moral suscita um sentimento, o respeito. Este nasce apenas no homem que encarna a lei moral.
Os postulados e o primado da razão prática: são pressupostos de um ponto de vista necessariamente prático. A sua força está no fato de termos de admiti-los para poder explicar a lei moral e o seu exercício. São eles:
a) a liberdade: no mundo sensível as ações do homem estão ligadas por um encadeamento rigoroso. Mas no mundo inteligível, que foge ao tempo, nada é anterior à sua vontade. Liberdade equivale à autonomia da vontade.
b) a existência de Deus: a virtude (exercício e a concretização do dever) é o “bem supremo”, este é definido como o acordo entre a virtude e a felicidade. A lei moral nos ordena ser virtuosos; isso nos torna dignos de felicidade, o que nos leva a considerar lícito a existência de Deus.
c) a imortalidade da alma: o sumo bem requer a “perfeita adequação da vontade à lei moral”. Mas essa “perfeita adequação” é a “santidade” que é exigida categoricamente e ninguém neste mundo pode concretizá-la, ela só pode ser encontrada em um progresso ao infinito, o que pressuporia a existência e uma personalidade do próprio ser racional que perdurem ao infinito, a alma.
José Rogério de Pinho Andrade

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Lar doce lar!

Como é bom voltar para casa! Ontem retornei ao Meu Castelo depois de uma semana fora (e como foi bom!). Foi maravilhoso poder chegar e encontrar os meus em paz, não tanto com saúde, pois o meu mano Rico está doente, gripe passageira mas incômoda, meu apostolar sobrinho, também um pouco gripado, ressaca do carnaval que não brincaram.
Hoje, a minha gripe se manifestou para solidarizar-se com a de Minha Rainha, também chegou febril e doente em casa, ressaca de viagem creio eu.
A minha fiel Lady Pocotó, como sempre só alegria. Depois de uma semana fez a festa com o papai dela!
No mais, a vida voltou ao normal (quase normal).
Mas como é bom voltar para casa!!!
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Longe de casa II

Ai, que preguiça!
Exclamação macunaímica, verdadeira característica dos dias em que estou vivendo. Os gregos me invejariam de tanto ócio. Não os modernos, pois o tempo livre que vivo desde os dias de Momo, de longe se distancia da ociosidade moderna. É sim um ócio criativo! O que tenho lido nestes dias tem me maravilhado ainda mais. De filosofia e direito, passando por ciência e literatura brasileira: Rawls, Dawkins, Machado de Assis, Mário de Andrade e Humberto Eco...cada um mais interessante do que o outro!
Amanhã a realidade se fará presente. Terei que retornar ao meu lar, meu castelo. Não estou achando ruim, pelo contrário, tenho saudade do que é meu e muito mais dos que são meus. Cedo pegarei a estrada com as bençãos do Sagrado, que de acordo com Dawkins não existe, mas compartilho apenas relativamente de suas idéias. Chegarei abençoado do mesmo modo que tenho sido desde o início de nossa viagem de ócio.
Na bagagem de volta, muita saudade e agradecimento pela hospitalidade ímpar de minha cunhada e meu cunhado. Algumas lembranças alimentícias para quem me espera, para que possa matar a saudade de sua origem paraense.
No mais, Ai, que preguiça!
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Na terra das mangueiras.

Longe de casa a quase uma semana....mas não distante do meu amor! Ela está comigo, estamos juntos.
Estamos na cidade das Mangueiras, Belém do Pará. Depois de passarmos o carnaval na cidade de Salinópolis.
Hoje na parte da manhã, fomos ao Mercado tradicional da cidade: o Ver-o-peso. Lá comprei para a minha família alguns produtos regionais, dentre eles o tão famoso peixe Pirarucu, também conhecido como o bacalhau do Amazonas. Como custa caro o quilo dele! Mas caro será a sua extinção, algo que não está tão distante!
Para quem não conhece a cidade, aqui todos os dias chove! Hoje caiu uma chuva torrencial, de muito vento e muito forte. Mas como todas as outras, não demorou muito a passar. A novidade é que molhou até dentro do apartamento de minha cunhada. Nada aterrador, Macunaíma me pareceu mais.
Agora, escrevo estas linhas como forma de ocupação mental, embora já tenha feito a minha obrigação diária de leitura. Já que estou na net, aproveitei para ocupar o blog.
Abraços filosóficos,
Rogério Andrade

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Acabou o carnaval 2008!

Escrevia algo sobre o fim do carnaval 2008 mas por algum motivo, deletei o texto. Tentarei colocar as mesmas idéias, embora não mais com as mesmas palavras.
Dizia que em três dias de folia, para outras cidades mais tempo, os "reis" viram súditos e estes viram reis. Os homens, tão machos ao longo do ano, se travestem de mulheres e liberam o que de mais escondido têm em sua personalidade. E como tem homem que gosta de se travestir e o fazem tão bem!
Padres viram foliões e estes padres, freiras se prostituem, enfermeiras e doentes saem dos hospitais que recebem de volta novos foliões.
Este é o fenômeno do carnaval, alegria desmedida, tristeza esquecida, realidade abandonada. É uma pena que acaba, e em tão pouco tempo!
Ficam as ressacas, os amores mal resolvidos, as dores de cabeça, as lembranças e muito mais. Na avenida, somente as purpurinas e o amido de maizena, as sobras das latas de bebida, os restos de fantasias. Estas também não demoram muito em função da atividade de limpeza dos garis que trazem de volta o cotidiano da realidade.
E, na quarta-feira de cinzas, a vida continua e o cotidiano das cidades recomeça, embora outros teimem em esticar o carnaval indefinidamente.
Assim caminha a humanidade!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Longe de casa

Estou distante de casa. Longe daquilo que é meu, vagando pelo mundo de meu Deus. Tranquilo porque os meus olham por aquilo que é meu. Estou distante porque quero me encontrar, me divertir, me esbaldar....
Estou feliz e mais nada.
Abraços filosóficos, Rogério Andrade