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sábado, 19 de novembro de 2011

Uma síntese do texto "O Banquete" de Platão


UMA SÍNTESE DO TEXTO “O BANQUETE” DE PLATÃO
José Rogério de Pinho Andrade

             O discurso se inicia com o encontro entre Apolodoro e Glauco. O primeiro conta o que ocorreu num banquete realizado na casa do poeta Agatão tal como o havia recebido de Aristodemo. Este se encontra com Sócrates que está bem arrumado e fica sabendo que ele se dirige à casa de Agatão comemorar a vitória deste obtida no debate. Sócrates, então, convida-o para ir junto.
            Chegando à casa de Agatão, Sócrates detém-se pensativo à porta de entrada enquanto Aristodemo entra e logo é interpelado sobre a presença de Sócrates.
            Resolvido o problema que o detivera à porta, Sócrates entra e é convidado pelo anfitrião para sentar-se ao seu lado a fim de desfrutar da idéia que lhe ocorrera. É logo refutado por Sócrates que lhe diz que a sabedoria não passa de um para o outro como a água de um jarro para outro. Mostra-se humilde, pois está diante de um vencedor de concurso de poesias.
            Outro convidado, um rico negociante chamado Pausânias, interroga a todos como deverão beber nesse dia, considerando a indisposição geral promovida pelas comemorações de outra bebedeira realizada no dia anterior. Tem logo a concordância de Aristófanes, grande comediógrafo da cidade.
            O médico Erixímaco, fala sobre os efeitos da embriaguez a partir de seus conhecimentos enquanto recebe a anuência de Fedro, o retórico, quanto a não passarem a reunião embriagados. O médico sugere a retirada da flautista e que a reunião se dê com apresentação de discursos feitos em homenagem ao Amor, tão esquecido pelos poetas. Critica-os considerando que são capazes de falar sobre assuntos tão diversos, de heróis ao sal, mas não sobre o deus. Por ser o primeiro na ordem do banquete, sugere, ainda, que Fedro inicie a falas sobre o Amor.
            Sócrates questiona alegando que os últimos a falar, ele é um deles, sairão prejudicados pela qualidade dos discursos anteriores, visto serem mais entendidos do temas os que o precederiam. Termina concordando com a sugestão de Erixímaco, pelo qual é acompanhado do demais.
            Então, Apolodoro começa a relatar os discursos, iniciando com o de Fedro. O discurso se inicia defendendo

“que era um grande deus o Amor, e admirado entre homens e deuses, por muito outros títulos e sobretudo por sua origem. Pois o ser entre os deuses o mais antigo é honroso, dizia ele, e a prova disso é que genitores do Amor não os há (...)” (p.18)
           
            Para Fedro, entre os deuses o mais antigo é o Amor e, sendo esta a sua condição, é para nós a causa dos maiores bens. A vida dos homens deve ser dirigida pela “vergonha do que é feio e ao pareço do que é belo” (p.19). Sem o Amor, não se pode produzir grandes obras e que diante dos amantes o amado se envergonha. Por seu intermédio, constroem-se cidades, consentem-se morrer por outro, não apenas os homens, mas também as mulheres. O que mais admiram e honram os deuses é a virtude que se forma em torno do amor e, mais ainda, “quando é o amado que gosta do amante do que quando é este daquele” (p.20). Fedro conclui dizendo:

“Assim, pois eu afirmo que o Amor é dos deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade entre os homens, tanto em sua vida como após sua morte”. (p.20)

            O próximo discurso, visto que outros ficaram esquecidos por Aristodemo é o de Pausânias.
            Pausânias começa criticando o discurso de Fedro por considerá-lo um simples elogio ao Amor e entendendo uma dupla natureza ao amor. Faz-se necessário estabelecer qual dos dois tipos de Amor se deve elogiar. Associa ele o Amor às duas deusas Afrodite: a Urânia (a Celestial), mais velha e a mais nova chamada de Pandemia (a Popular). Deste modo, o amor seria duplo, o Celestial (Urânio) e o Popular (Pandêmio).  Deve-se louvar todos os deuses e dizer o dm de cada um, pois as ações, em si mesmas, não são belas nem feias, mas sim na maneira como são feitas, que resulta a beleza ou a feiúra, isto é, “o que é belo e corretamente feito fica belo,o que não o é fica feio” (p.21). Então, “o amar e o Amor não é todo ele digno de ser louvado, mas apenas o que leva a amar belamente” (p.21)
            O Amor popular (Pandêmio) é a ele que os homens vulgares amam. Amam tais pessoas não menos as mulheres que os jovens e amam mais o corpo que a alma, e ainda, dos mais desprovidos de inteligência, pois não há preocupação se é decente ou não. O Amor Celestial, que participa apenas do macho é dedicado aos jovens. Afeiçoando-se ao que é de natureza mais forte e que tem mais inteligência. Não amam os meninos, mas os jovens que já começam a ter juízo. É uma dedicação que deve ser duradoura, o que não é possível na incerteza própria dos meninos. Deve ser este Amor obediente à lei. Ele não é em si e por si belo nem feio, tais qualidades dependem da prática dos amantes. Mau é amar o corpo mais que a alma, pois o corpo é efêmero, lançando o amado no abandono. Bom é o amor constante, pois se uniu ao que é constante, a alma. Deve-se, então, “congraçar num mesmo objetivo, essas duas normas, a do amor aos jovens e a do amor ao saber e às demais virtudes, se deve dar-se o caso de ser belo aquiescer o amado ao amante” (p.24). O amor da deusa Celeste é de valor para a cidade e os cidadãos.
            O próximo discurso, pela ordem deveria ser o de Aristófanes. Contudo, acometido de um acesso de soluços ficou impossibilitado de falar. Solicita, para Erixímaco, uma cura ou que ele fale em seu lugar. O médico receita-lhe um tratamento para os soluços e começa a falar considerando que o discurso de Pausânias teve um bom início mas não desfechou do mesmo modo. Seu ponto de partida consiste me considerar a natureza dupla do amor

“porém não está ele apenas nas almas dos homens, e para com os belos jovens, mas também nas outras partes, e para com muitos outros objetos, nos corpos de todos os outros animais, nas plantas da terra e por assim dizer em todos os seres é o que creio ter constatado pela prática da medicina, a nossa arte; grande e admirável é o deus, e a tudo se estende ele, tanto na ordem das coisas humanas como entre as divinas”. (p.25)

            Passa, então, Erixímaco a homenagear a arte da medicina como a primeira ciência do amor. Seu pressuposto é o de que sendo dupla a natureza do amor, ele se apresenta como a harmonia entre os contrários, é a atração ordenada dos opostos. A medicina é a ciência dos fenômenos do Amor, próprio aos corpos, mas também a ginástica e a agricultura são dirigidos nos traços do deus Amor. Do mesmo modo a música e as demais artes. O Amor é moderação e “na medida do possível, deve-se conservar um e outro amor” (p.27), isto é, tanto o Celestial como o Popular. O Amor é múltiplo e universal,

“mas aquele que é em torno do que é bom se consuma com sabedoria e justiça, entre nós como entre os deuses, é o que tem o máximo poder e toda felicidade nos prepara, pondo-nos em condições de não só entre nós mantermos convívios e amizades, como também com os que são mais poderosos que nós, os deuses”. (p.27)
           
            Curado dos soluços, fala Aristófanes pontuando o seu discurso diferindo-o dos anteriores quanto ao desconhecimento, por parte dos homens, do poder do amor, pois poucas oferendas e sacrifícios fizeram a ele.  Ele considera o Amor o deus mais amigo dos homens. Para iniciar os demais no poder do Amor, primeiro ele fala da natureza humana e suas vicissitudes. Considera, então, que no passado eram três os gêneros da humanidade: o masculino, o feminino e o andrógino (comum aos dois). Inteiros eram os homens em sua forma circular: quatro mãos e quatro pernas, dois rostos opostos entre si, cada um de um lado e dois sexos. Extremamente fortes e vigorosos, possuidores de uma grande presunção, voltaram-se contra os deuses e tentaram escalar os céus. Como castigo, Zeus separou os seus corpos, voltando-lhes o rosto para o lado onde os costurou, deixando-os com os órgãos sexuais voltados para trás, pois contemplando a própria mutilação, poderiam tornar-se mais moderados. Mutilada em duas a natureza humana, desde então, cada um ansiava encontrar sua própria metade e unia-se se envolvendo um ao outro no ardor de se confundirem, morriam de inércia e de fome. Assim, iam-se destruindo. A compaixão de Zeus, muda-lhes o sexo para a frente fazendo com que a geração se processasse um no outro: o macho na fêmea constituindo a raça, um homem com um homem, constituindo a sociedade e a convivência. O Amor está implantado nos homens como restauração de nossa antiga natureza, em nos fazer “um só de dois e curar a natureza humana” (p.30). Dos andróginos, provem o amor às mulheres de onde provem a maioria dos adultérios. Das mulheres que se originam do feminino, provém o amor à mulheres. Dos homens oriundos do masculino, provem o amor dos homens, dos semelhantes em coragem e masculinidade. Não é por despudor tal amor e uma prova disso é que, “uma vez amadurecidos, são os únicos que chegam a ser homens para a política, os que são desse tipo” (p.30). Não se trata de uma união sexual, pois uma coisa quer a alma de cada um: “unir-se e confundir-se com o amado e de dois ficarem um só” (p.31). É ao desejo e procura do todo que se dá o nome de Amor, ele é desejo de união e indivisão e ao deus que isto nos propicia, todo nosso louvor.
            O discurso seguinte é proferido por Agatão. Inicia-se ponderando que os antecessores nos discursos elogiaram a felicidade dos homens obtida por intermédio do Amor e não a ele propriamente. Busca, então, falar da natureza do amor louvando-o e depois aos seus dons. Para ele o Amor é o mais feliz dos deuses por ser o mais belo e melhor dentre todos. É também o mais jovem, pois foge da velhice e busca a juventude, pois o semelhante sempre do semelhante se aproxima. Além de jovem, é o amor dedicado e a prova é que ele anda

“no que há de mais brando entre os seres (...) nos costumes, nas almas de deuses e de homens ele fez sua morada, e ainda, não indistintamente em todas as almas, mas da que encontre com um costume rude ele se afasta, e na que o tenha delicado ele habita.” (p.34)

            Sua constituição é úmida, o que lhe permite amoldar de todo jeito. Tais são as características de sua beleza. Prossegue falando de suas virtudes: primeiramente, não comete e nem sofre injustiças, não pode ser tocado pela violência, é temperante, é corajoso e sábio. A sua sabedoria está vinculada à poesia, ele é um poeta (tal qual o dono do discurso), pois é inspiração em toda criação artística. É ele também, belo, pois quando surgiu entre os deuses, proporcionou-lhes concórdia e harmonia. É, portanto, “por ser em si mesmo o mais belo e o melhor, depois é que é para os outros a causa de outros tantos bens” (p.35). A ele toda Glória dos homens e dos deuses.
            Aplaudido por todos os presentes, coube a Sócrates a lembrança de Erixímaco de quanto seria belo o discurso de Agatão e que nada restaria para ser dito, portanto, estaria ele embaraçado agora. Ao que é retrucado em sua recusa de falar pelo próprio Erixímaco que duvida de suas habilidades em proferir discurso tão ou mais belo.
            Sócrates aceita falar, não em competição aos demais discursos, mas do seu modo, isto é, sem eloqüência buscará dizer a verdade sobre Eros. Muda-se o rumo do debate sobre o Amor: do elogio para a busca de sua essência.
            Para não parecer impertinente com as suas perguntas, Sócrates falará do amor por meio das palavras de Diotima de Mantinéia (mulher sábia nas coisas do amor). Ele jovem respondia, enquanto ela, mais velha e experiente o questionava, conduzindo-o à essência do Amor.
            Diotima afirma que Eros não é um deus e nem um mortal, não é belo nem feio. Ele é um gênio (daimon), intermediário entre deuses e homens, criador de laços entre eles. Qual é, então, a origem do Amor?
            Nasceu ele da união de Pobreza (Pênia / Penúria) com Poros (Recurso / Estratagema). Ela, excluída do festim em homenagem ao nascimento da deusa Afrodite, a bela, entrou furtivamente ao término da festa para comer os restos quando encontrou, adormecido pelo vinho, Poros (Recurso) e, desejando um filho seu, concebeu Eros. Por ser concebido no dia do nascimento de Afrodite, Eros ama o belo. Por ser filho de Recurso e de Pobreza possui a condição de ser pobre e longe está de ser belo e delicado. Seu triste destino é ser como sua mãe, maltrapilho, sem-teto, sempre carente e como seu pai, engenhoso, astuto, maquinador, hábil feiticeiro e sofista, deseja tudo quanto seja belo e aspira a tudo conhecer. “Amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância” (p.41)
            Não sendo nem deus nem tolo, ama a sabedoria, pois “não deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso” (p.41). Se fosse deus não poderia amar a sabedoria por já possuí-la, se fosse tolo, julgar-se-ia perfeito e completo, não desejando aquilo que não pode notar a falta. Eros é, deste modo, carência em busca de plenitude. O Amor é filósofo, pois está entre o sábio e o ignorante. É o amável que é belo, de outro é o caráter do amante.
            Eros ama. Mas o que ama o Amor? O que é que ama o amante? O que dura, o perene, o imortal. Ama o bem, pois deseja o bom como pertence para sempre. Amar é ter o belo (o bom) consigo para sempre. O supremo Amor é “esse desejo do que é bom e de ser feliz” (p.43), isto é, comum para todos os homens. No entanto, nem todos são de fatos amantes, pois se voltam para o amor por caminhos diferentes.
            O Amor é concebido tanto no corpo quanto na alma. Por isso Eros cria nos corpos o desejo sexual e o desejo da procriação que imortaliza os mortais, pois, o amor é da parturição do belo, visto que por geração é a imortalidade que se deseja. O que convém à alma conceber e gerar? O pensamento e a virtude. Entre os amantes da alma,

estão todos os poetas criadores e artesãos que se diz serem inventivos; mas a mais bela forma de pensamento é a que trata da organização dos negócios da cidade e da família, e cujo nome é prudência e justiça (...)”(p.46).
            O amor ama nos corpos bons sua beleza exterior e interior. Amando o belo exterior, Eros nos faz desejar as coisas belas e amando o belo interior, nos faz desejar as almas belas. “Os corpos mortais geram filhos mortais. As almas imortais geram virtudes imortais” (CHAUÍ, p.211)
            Quanto à perfeita contemplação do amor e de seus graus dá-se do seguinte modo:

começar quando jovem por dirigir-se aos belos corpos, e em primeiro lugar (...) deve ele amar um só corpo e então gerar belos discursos; depois deve ele compreender que a beleza em qualquer corpo é irmã da que está em qualquer outro, (...) deve ele fazer-se amante de todos os belos corpos e largar esse amor violento de um só, (...) a beleza que está nas almas deve ele considerar mais preciosa que a do corpo (...) seja obrigado a contemplar o belo nos ofícios e nas leis (...) depois é para as ciências que é preciso transportá-lo (...) em inesgotável amor à sabedoria, até que aí robusto e crescido contemple ele uma certa ciência, única, tal que o seu objeto é o belo seguinte”. (p. 47 – 48)
           
            O Amor é, pois, uma elevação da alma que consiste

em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo”. (p.48)
           
            Após a fala de Sócrates, Aristófanes tenta dizer algo, mas é interrompido por Alcibíades, que entra embriagado procurando por Agatão para coroá-lo. É recebido pelos demais convivas quando se dá conta da presença de Sócrates e critica-o. Este pede a proteção e defesa de Agatão dos ciúmes de Alcibíades, que acaba elegendo-se para chefe do banquete. Logo é avisado por Erixímaco dos procedimentos acerca dos discursos sobre o Amor, ao que é convidado a fazer o seu. De pronto recusa-se alegando a própria bebedeira, o que o colocaria em desvantagens perante os outros que estão sóbrios.
            Alcibíades propõe, então, louvar a Sócrates, não para ridicularizá-lo, mas falar a verdade. Tenta descrever Sócrates como um sedutor insolente que seduz com palavras e discursos. Considera a postura de Sócrates um ardil de sedução dos mais jovens. Enciumado por nunca ter conseguido a atenção que esperava de Sócrates, trata de desfiar as qualidades de Sócrates como a resistência à bebida e ao frio.
            Sócrates percebe a verdadeira intenção de Alcibíades: é jogar Agatão contra ele, mostrando o ciúme que sente. Declara-o consciente e em perfeito juízo. Com Agatão sentado à sua direita, começaria uma nova rodada de discursos que consistiria em fazer elogios a quem estivesse sentado à sua direita. Mas um tumulto se forma com a entrada de um numeroso grupo de pessoas e, sem ordem alguma, todos são obrigados a beber vinho em demasia. Alguns foram embora enquanto o festim continuava até o dia seguinte com Agatão, Aristófanes e Sócrates. Dormindo os outros dois, Sócrates se retira, já dia alto, com a companhia de Aristodemo em direção ao Liceu, onde passou o resto do dia indo descansar em sua casa à tarde.
            Deste modo, o tema da beleza está vinculado ao tema do Amor (Eros) entendido como força mediadora entre o sensível e o suprasensível, que através dos vários graus da beleza, eleva à Beleza existente em si mesma. Como o Belo e o Bem coincidem (o Belo é uma forma do Bem) o Amor é uma força, um caminho que eleva ao Bem.
            Para Platão, o Amor não é nem belo nem bom, mas é sede de beleza e bondade. Não é nem um deus, nem homem; não é mortal, nem imortal. Como ser intermediário entre o homem e deus, o amor é ”filo-sofo”, em seu sentido mais denso.
            Como “filo-sofo”, o Amor condiciona-se pela busca incessante do saber, tal qual o amante ao amado. O verdadeiro Amor é desejo do Belo, do Bem, da Sabedoria, do Absoluto e da Imortalidade. Dispondo de vários caminhos, o Amor conduz a vários graus de bem e o verdadeiro amante, sabe percorrer tais caminhos até a visão suprema do Belo Absoluto.
            O grau mais baixo na escala do Amor é o amor físico , consistente “no desejo de possuir o corpo belo para gerar no belo um outro corpo” (REALE & ANTISERI, p.150). Constitui-se como desejo da imortalidade pela geração.
            O grau seguinte é o dos amantes que se mostram fecundos quanto à alma. Entre estes, encontram-se em escala progressiva os amantes das almas, os amantes da justiça e das leis,os amantes das ciências puras.
            Por fim, no ápice da escala do Amor, está a visão sublime e fulgurante da idéia do Belo em si, do Absoluto.

            Assim, o “amor platônico” “é nostalgia do absoluto, tensão transcendente para o mundo metaempírico, força que impulsiona para o retorno à nossa existência originária junto aos deuses” (REALE & ANTISERI, P. 150)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Discurso da Servidão Voluntária passo a passo.


O Discurso da Servidão Voluntária passo a passo.
José Rogério de Pinho Andrade

O livro começa apresentando uma citação da Ilíada de Homero que diz
Não é bom ter vários senhores.
Um só seja o senhor, um só seja o rei.

Étienne de La Boétie analisa a afirmação e considera que nela há uma contradição, pois se a dominação de muitos não é boa, a de um só também não é, pois “o poder de um só, quando adota o título de soberano, torna-se duro e irracional”. (LA BOÉTIE, 2009, p.29)
E acrescenta que “é a maior desgraça estar sujeito a um soberano de cuja bondade nunca se pode ter certeza e que tem sempre o poder de ser mau quando quiser. E ter vários senhores é ser tantas outras vezes extremamente infeliz”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 29)
No livro o autor não tem como objetivo discutir se as outras formas de República são melhores que as monarquias e aponta uma desconfiança quanto a acreditar que possa haver algo de público em um governo no qual tudo depende de um só. Assim, seu objetivo principal é
entender como tantos homens, tantos burgos, tantas cidades e tantas nações suportam às vezes de um tirano só, que não tem mais poder do que o que lhe dão, que só pode prejudicá-los enquanto quiserem suportá-lo a contradizê-lo. (LA BOÉTIE, 2009, p. 30)

Tal situação, para o autor, é admirável, mais de tão comum, torna-se lastimável
[...] ver um milhão de homens servir miseravelmente e dobrar a cabeça sob o jugo, não que sejam obrigados a isso por uma força que se imponha, mas porque ficam fascinados e por assim dizer enfeitiçados somente pelo nome de um, que não deveriam temer, pois ele é um só, nem amar, pois é desumano e cruel com todos. (LA BOÉTIE, 2009, p. 30)

Encerra esta primeira seção do texto enfatizando a fraqueza dos homens que é a de serem “forçados a obedecer, obrigados a contemporizar, nem sempre podem ser os mais fortes”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 30)

Os deveres recíprocos da amizade absorvem boa parte de nossa vida

Nesta seção o autor abordará a ideia de que os deveres recíprocos da amizade absorvem boa parte de nossa vida e que se os habitantes de um país encontrarem em seu meio alguém que mereça o respeito e a obediência não seria prudente tirá-lo de onde poderia fazer o bem e colocá-lo onde poderia fazer o mal. Assim refere-se ele à amizade
Amar a virtude, estimar as belas ações, ser gratos pelos benefícios recebidos e, muitas vezes, reduzir nosso próprio bem-estar para aumentar a honra e o progresso daqueles que amamos, e que merecem ser amados, é uma correspondência justa à razão. (LA BOÉTIE, 2009, p. 31)

Deste modo entende o filósofo que “parece ser natural ser bom em relação àquele que nos proporcionou o bem e não temer mal algum da parte dele”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 31)
O recurso à amizade é para que o autor possa se questionar como é possível que um grande número de pessoas obedeça e sirva àquele que a tiraniza e, mesmo sofrendo todas as formas de crueldade, não de um exército, contra o qual cada um deveria arriscar a vida para defender-se, mas de um homem só, e nem sendo o mais forte e corajoso dos homens.
O que motivaria tal comportamento seria a covardia daqueles que servem? De alguns poderia ser a condição de não reagirem, mas não da maior e mais numerosa parte. E se não é a covardia que, o que mantém a condição de servidão?

Quais irão com mais coragem ao combate?

Nesta seção o filósofo mostra que a aqueles que lutam para manter a liberdade o fazem com mais coragem do que aqueles que o fazem por razões financeiras. Os primeiros “têm sempre diante dos olhos a felicidade de sua vida passada e a expectativa de um bem-estar igual no futuro”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 33) Quanto aos do segundo tipo, só possuem como estimulo a cobiça que se dissipa diante do perigo. O autor apresenta como exemplos de que a luta para preservar a liberdade é a mais significativa delas os generais atenienses Milcíades (Batalha de Maratona) e Temístocles (Batalha de Salamina), e o espartano Leônidas (Batalha das Termópilas). Enfatiza a bravura destes lutadores inspirada na liberdade.
La Boétie (2009, p. 34) destaca ainda nesta seção que não é preciso combater e nem derrubar àquele que tiraniza, “ele se destrói sozinho, se o país não consentir com a sua servidão”. O posicionamento do filósofo é o de que os próprios povos se deixam mal-tratar e que seriam livres se deixassem de servir: “É o próprio povo que se escraviza e se suicida quando, podendo escolher entre ser submisso ou ser livre renuncia à liberdade e aceita o jugo; quando consente com seu sofrimento, ou melhor, o procura”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 34)
Ele encerra esta seção reforçando que a liberdade é um direito natural, o mais caro de todos eles, mas se mostra cético quanto ao fato de que os homens lutem por sua própria liberdade. “Não existe nada mais caro para o homem do que readquirir o seu direito natural e, por assim dizer, de animal voltar a ser homem. Contudo, não espero dele ousadia tão grande”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 340

Mais arruínam e destroem quanto mais é dado a eles

Assim como o fogo que cresce à medida que encontra combustível para alimentá-lo, age o tirano. Para extinguir o fogo, é suficiente não alimentá-lo com combustível, o mesmo poderia ser feito com os tiranos. La Boétie considera que
[...] os tiranos quanto mais pilham mais exigem. Mais arruínam e destroem quanto mais é dado a eles. Quanto mais servidos mais se fortalecem e se tornam cada vez mais fortes e dispostos a aniquilar e destruir tudo. Mas basta não lhes dar nada e não lhes obedecer, sem combatê-los ou atacá-los, e eles ficam nus e são derrotados, e não são mais nada [...]. (LA BOÉTIE, 2009, p. 35)

O autor enfatiza, ainda, que os homens ousados e prudentes não temem e nem regateiam nenhum esforço para conseguir o bem que desejam, já “os covardes e os preguiçosos não sabem suportar o mal nem recuperar o bem. Limitam-se a desejá-lo e a energia de sua pretensão lhes é tirada por sua própria covardia”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 35) Acrescenta que esse desejo que é comum aos sábios e aos imprudentes, aos corajosos e aos covardes, fez com que desejassem todas as coisas cuja posse os tornaria felizes e contentes. No entanto, o mesmo não acontece com a liberdade, o que incompreensivelmente, os homens “não têm sequer força para desejar”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 35) O autor considera que os homens apenas desdenham da liberdade porque a teriam se a desejassem, isto é, como obter a liberdade é fácil demais, parece que se recusam a obtê-la.

Viveis de tal maneira que não podeis gabar-vos de algo que vos pertence.

Nesta seção o autor se refere à insensatez das pessoas e das nações quando se trata da própria felicidade. Deixam-se pilhar os seus bens e parecem que olham com grande sorte terem-lhes deixado apenas metade de seus bens e de sua vida, e tudo isto como obra de uma única pessoa, o tirano.
Então, o filósofo reforça a ideia de que o tirano possui a mais do que aqueles a quem oprime apenas os meios da opressão e que foram dados a eles pelos próprios oprimidos. Quem oferece os bens a serem pilhados e as condições para a atuação do tirano, são os próprios indivíduos e nações, então é deles que pode vir a solução que consiste em não mais servirem ao tirano, como ele diz
Sede resolutos em não querer servir mais e sereis livre. Não vos peço que o enfrenteis ou o abaleis, mas somente que não o sustenteis mais, e o vereis, como grande colosso do qual se retirou a base, despencar e despedaçar-se debaixo do próprio peso. (LA BOÉTIE, 2009, p. 37)

E ele encerra a seção reforçando o objetivo do texto que é “compreender, se for possível, como essa vontade obstinada de servir criou raízes tão profundas que se julgaria que o próprio amor à liberdade não é tão natural”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 37)

Somos todos companheiros, ou melhor, todos irmãos.

O autor inicia esta seção afirmando que se vivêssemos de acordo com os direitos e ensinamentos da natureza, “seríamos naturalmente obedientes aos pais, sujeito à razão, e não seríamos escravos de ninguém”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 37) A tese do autor é de que há entre os homens uma igualdade natural e que as diferenças existentes naturalmente não justificam a opressão, mas sim a fraternidade:
Se há algo claro e evidente, ao qual ninguém pode ficar cego, é que a natureza, ministra de Deus e governante dos homens, criou todos nós da mesma forma e, ao que parece, na mesma fôrma, para nos mostrar que somos todos companheiros, ou melhor, todos irmãos. [...] ao conferir partes maiores a uns e menores a outros, quis dar espaço à afeição fraterna para que ela tivesse onde ser praticada, pois uns têm o poder de prestar ajuda, enquanto outros necessitam recebê-la”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 38)

Assim, não há de se justificar a opressão pelo discurso da desigualdade natural, pois, segundo o autor, “não pode entrar no entendimento de ninguém que a natureza tenha posto alguém em servidão, porque ela nos reuniu a todos em companhia”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 38)
Também seria inócuo debater se a liberdade é natural, pois La Boétie (2009, p. 38-39) entende que manter alguém em opressão é impossível sem prejudicá-lo, e nada é mais contrário à razão do que a injustiça. E conclui que a liberdade é natural e nascemos também com a paixão para defendê-la, o que se pode verificar pelo comportamento dos animais que lutam e reagem quando se tornam prisioneiros, se debilitam e continuam a viver para lamentar seu bem-estar perdido, ou ainda se deixam morrer para não sobreviverem à perda de sua liberdade natural.
Ele utiliza-se da analogia com o comportamento animal diante de uma opressão para reforçar o seu questionamento de como pode o homem, contrariando a própria natureza, suportar a opressão. Em suas palavras
[...] se todo ser dotado de sentimento sente o peso da sujeição e busca a liberdade; se os animais, mesmo postos a serviço do homem, não conseguem acostumar-se a servir a não ser depois de protestar com um desejo contrário, que fatalidade pôde perverter a natureza do homem, o único que nasceu para viver livre, a ponto de fazê-lo perder a memória de seu ser primitivo e o desejo de recuperá-lo?

Sugam com o leite a natureza do tirano

Nesta seção La Boétie (2009, p. 40) abordará os tipos de tiranos e como alcançam o poder. Ele inicia a seção afirmando que há três tipos de tiranos: uns adquirem o poder por eleição, outros pela força das armas e, por fim, os que o adquirem por sucessão hereditária.
Aqueles que adquirem “o poder pelo direito da guerra se comportam como se estivessem em país conquistado. Os que nascem reis geralmente não são melhores”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 40) Aqueles a quem o povo entregou o poder pareceriam mais suportáveis, mas tão logo se vê acima de todos, considera que o poder conferido pelo povo deve ser transmitido aos seus filhos e, deste modo, “superam os outros tiranos em todos os tipos de vícios, e mesmo em crueldade” e passam a assegurar a tirania reforçando a servidão e afastando os seus súditos da liberdade, que logo se apagará da memória.
Há pouca diferença entre estes tiranos, mas de opção nenhuma, eles chegam ao trono por meios diversos, mas a maneira de reinar é quase sempre a mesma “Os que são eleitos, tratam o povo como touros a serem domados, os conquistadores como sua presa, os sucessores como um bando de escravos que lhes pertencem por natureza”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 41)
Ele encerra esta seção afirmando que “para que os homens, enquanto conservam algo de humano, se deixem sujeitar, é preciso que sejam forçados ou enganados”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 41) Quando por engano, com frequência são seduzidos e enganados por si mesmos.

Não só perdeu a liberdade, mas ganhou a servidão

O autor inicia esta seção estarrecido “em ver como o povo, quando é submetido, cai de repente num esquecimento tão profundo de sua liberdade, que não consegue despertar para reconquistá-la”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 42) Não apenas perde a liberdade, mas ganha a servidão.
Inicialmente obedecem pela força, mas posteriormente servem sem relutância e fazem voluntariamente o que seus antepassados fizeram por imposição
Os homens nascidos sob o jugo, depois alimentados e educados na servidão, sem olhar mais à frente, contentam-se em viver como nasceram e não pensam que têm outros bens e outros direitos a não ser os que encontraram. Chegam finalmente a persuadir-se de que a condição de seu nascimento é natural. (LA BOÉTIE, 2009, p. 43)

La Boétie (2009, p. 43) atribui à força do hábito a responsabilidade da servidão e da opressão, ele chega mesmo a impor-se à própria natureza: “As sementes do bem que a natureza coloca em nós são tão miúdas e frágeis que não podem resistir ao menor choque de um hábito contrário”.

Experimentaste o favor do rei, mas não sabes o gosto da liberdade

Nesta seção La Boétie (2009, p. 47) reforçará a ideia de que universalmente “a sujeição é detestável e a liberdade é cara”. Mas que se deve ter piedade daqueles que já nasceram sob o jugo e a opressão, se deve perdoá-los ou desculpá-los, pois “não tendo sequer visto a sombra da liberdade e não tendo ouvido falar dela, não se dão conta do mal de serem escravos”.
O autor apresenta, então, a primeira razão da servidão voluntária que é o hábito. O que expressa as suas palavras: “O homem é naturalmente livre e quer sê-lo, mas sua natureza é tal que se amolda facilmente à educação que recebe”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 48)
No entanto, o hábito não legitima a opressão, na verdade com o passar dos anos, aumenta a injúria. Assim, sempre há aqueles que nunca deixam de pensar na liberdade, pois dotados de um espírito claro e evidente, não se contentam como os demais, o populacho. Para eles, a liberdade é sentida em seu espírito e a saboreiam, enquanto a servidão lhes causa repugnância.

O Tirano os priva de toda liberdade, não só de falar e de agir, mas até de pensar.

La Boétie (2009, p. 49) considera que outra maneira de se efetivar a opressão é privando os súditos de “toda liberdade, não só de falar e de agir, mas até de pensar”, pois “os livros e a instrução dão mais que qualquer outra coisa aos homens o bom senso e o entendimento para se reconhecerem e odiarem a tirania”. Sem conhecimento e reconhecimento entre si, mesmo em grande número, aqueles que se devotam à liberdade perdem a eficácia de sua ação.
Ele encerra este tópico destacando a segunda razão pela qual os homens servem voluntariamente. Ela está intimamente ligada à primeira razão, que é o fato de nascerem os homens servos e serem educados como tais e “sob os tiranos, os homens se tornam facilmente covardes efeminados”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 51) Para ele, as pessoas submissas não têm brio e nem entusiasmo no combate, o mesmo não acontece com os homens livres que “disputam a preferência em lutar pelo bem comum, porque associam a ele seu interesse particular: todos esperam ter sua parte no mal da derrota ou no bem da vitória”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 52)

Os tiranos, prejudicando a todos, são obrigados a temer todo o mundo

Utilizando-se do livro do historiador grego Xenofonte (Hierão, ou Os deveres de um rei) que “descreve a punição que sofrem os tiranos que, prejudicando a todos, são obrigados a temer todo o mundo” (LA BOÉTIE, 2009, p. 52-53), o filósofo reforça a sua tese de que o tirano só sente assegurado o seu poder quando somente lhe resta como súditos homens sem valor, isto é, homens “efeminados” e ignorantes, pois “esta é a inclinação natural do povo ignorante, cujo número é cada vez maior nas cidades: desconfia daquele que o ama e acredita naquele que o engana”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 54)

 Os meios que os tiranos empregavam para entorpecer seus súditos sob o jugo

Os tiranos antigos utilizavam-se de jogos e espetáculos, passatempos de diversos tipos para manter sob o seu jugo os seus súditos. Os romanos valiam-se das festas e da distribuição de alimentos. Assim, os súditos homenageavam o rei e por este era ludibriado, pois “os imbecis não percebiam que recuperavam apenas parte do que era seu, e que mesmo a parte que recuperavam o tirano não poderia dar-lhes se, antes, não a tivesse tirado deles mesmos”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 55)

Alguns belos discursos sobre o bem público o interesse geral

Nesta seção La Boétie abordará o papel dos belos discursos na manutenção da tirania. É na realidade um destaque à relação do tirano com os seus súditos por meio dos belos discursos, em especial aqueles de caráter sagrado e misterioso. Assemelha-se ao papel atribuído à ideologia e à religião por Karl Marx. Então, agem os tiranos por meio de discursos que revelam a realidade tal como interessa a eles, e para isto utilizam do mistério, em especial o de caráter religioso, como nos diz La Boétie (2009, p. 58)
Os próprios tiranos achavam estranho que os homens pudessem suportar um homem que os maltratasse. Por isso se cobriam de bom grado com o manto da religião e, se possível, queriam tomar emprestada alguma amostra da divindade para manter sua vida malvada.

Assim, o filósofo aponta uma terceira razão que possibilita a manutenção da servidão e com ela a tirania, a saber, a devoção, como deixa entrever na indagação “[...] não está claro que os tiranos, para se manter, esforçaram-se para acostumar o povo, não só á obediência e à servidão, mas ainda à sua devoção?” (LA BOÉTIE, 2009, p. 61)
No entanto, ele reforça que isto somente é utilizado pelos tiranos “entre o povo miúdo e grosseiro”. Então, La Boétie (2009, p. 61) chega “a um ponto que é [...] a mola mestra e o segredo da dominação, o apoio e o fundamento da tirania”. Este ponto diz respeito àqueles que defendem o tirano, que não são os exércitos, mas apenas quatro ou cinco.

Cúmplices de suas crueldades, companheiros de seus prazeres, favorecedores de suas libidinagens e beneficiários de suas rapinas.
 
São sempre cinco ou seis que, obtendo a confiança do tirano, se tornam seus cúmplices e aproveitam suas libidinagens e suas rapinas. Diz ele, “Esses seis dominam tão bem seu chefe que ele se torna mau para a sociedade, não só com suas próprias maldades, mas também com as deles”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 62) Eles se multiplicam, adquirem o governo das províncias ou a administração do dinheiro público e os exercem para benefício próprio, como isenção das leis e das punições. Assim, La Boétie reforça a argumentação de que a tirania se mantém porque beneficia a muitos outros, além do próprio tirano, como nos diz o filósofo “[...] com os ganhos e favores que se recebem dos tiranos, chega-se ao ponto em que são quase tão numerosos aqueles para os quais a tirania parece proveitosa quanto aqueles para quem a liberdade seria agradável”. (2009, p. 62)
E encerra esta seção afirmando que no entorno do tirano reúne-se toda a escória para apoiá-lo e “para participar do butim e se tornar pequenos tiranos sob o grande tirano”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 63)

É assim que o tirano subjuga os súditos uns por meio dos outros.

A tirania se estabelece por meio uns dos outros, isto é, o tirano não a exerce sozinho, pois conta com a ajuda daqueles que desejam beneficiar-se da convivência com ele. É assim, também que ele se protege contra aqueles a quem deveria precaver-se.
Os bajuladores do tirano não estão livres da opressão, mas “infelizes e abandonados por Deus e pelos homens se contentam em suportar o mal e em fazê-lo, não àquele que o fez a eles, mas àqueles que, como eles, estão condenados a sofrê-lo e nada podem fazer”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 64) Para o filósofo aproximar-se do tirano é afastar-se cada vez mais da liberdade e abraçar-se à servidão. Aqueles que estão mais próximos do tirano, são mais infelizes do que os camponeses e os artesões, pois estes não são obrigados a cumprir o que lhes é imposto.
Do lado do tirano, há a desconfiança com relação àqueles que o cercam e o bajulam, ele “vê os que o cercam como pessoas que trapaceiam e mendigam seus favores”. Tais pessoas são mais infelizes porque se anulam diante do que deseja e precisa o tirano, chegam mesmo a se atormentarem e trabalhar pelos interesses dele “E, já que só sentem prazer com o que lhe dá prazer, precisam sacrificar seu gosto pelo dele, forçar seu temperamento e renunciar até seus afetos naturais”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 64) O questionamento do filósofo é se é possível chamar isso de vida? E se há condição mais miserável do que esta, viver “não tendo nada de seu e dependendo do outro quanto à sua satisfação, sua liberdade, seu corpo e sua própria vida?” (LA BOÉTIE, 2009, p. 65)
Esta passagem do texto, reforça o entendimento do autor de mais uma razão para submeter-se à opressão, qual seja, os bajuladores “querem servir para acumular bens, como se não pudessem ganhar nada que não fosse deles, pois nem sequer podem dizer que são donos de si mesmos”, assim “querem tornar-se possuidores de bens, esquecendo-se de que são eles que lhe dão a força para tirar tudo de todos e não deixar nada que se possa dizer que seja de alguém”, mas eles vêem que “são os bens que tornam os homens mais dependentes de sua crueldade, que para ele não há crime mais digno de morte do que a riqueza”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 65) É o desejo de querer e possuir que alimenta a opressão e a tirania.
Mas os bajuladores não podem esquecer que não estão livres da opressão e da tirania, a sua condição de proximidade do tirano não lhes dá isenção do poder dele, pois muitos foram esmagados por tal opressão. Como nos diz o filósofo
Entre o grande número daqueles que se encontram próximos de reis maus, foram poucos, para não dizer quase nenhum, os que não experimentaram eles mesmos a crueldade do tirano, que antes estimularam contra outros. Muitas vezes enriquecidos à sobra de seu favor com os despojos alheios, no fim o enriqueceram eles mesmos com seus próprios despojos. (LA BOÉTIE, 2009, p. 65-66)

Essas pessoas de bem não poderiam manter-se junto ao tirano
  
As pessoas de bem não poderiam manter-se junto ao tirano, pois se ressentiriam do mal comum e experimentariam em si mesmas a tirania. Com exemplos o filósofo mostra que o tirano não é digno de confiança e que não é capaz de oferecer amizade, pois tem o “coração tão duro capaz de odiar todo um reino que não faz senão obedecer-lhe, e de um ser que, não sabendo amar, empobrece a si mesmo e destrói seu próprio império”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 66-67)
Com exemplos históricos, como o de Nero e do imperador Cláudio, o filósofo demonstra que aqueles que caem na graça do tirano e se mantêm por suas maldades acabam não durando mais. Como não sabem fazer o bem, os tiranos dirigem a sua opressão e maldade contra aqueles que estão próximos e, por isto mesmo, quase todos os tiranos antigos foram mortos por seus favoritos, pois “conhecendo a natureza da tirania, estes não estavam seguros a respeito da vontade do tirano e desconfiavam de seu poder”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 68)

O tirano nunca ama e nunca é amado

La Boétie entende que
a amizade é um sentimento sagrado [...]. Nasce da estima mútua e se alimenta não tanto dos benefícios quanto dos bons costumes. O que dá a um amigo a certeza da amizade do outro é o conhecimento de sua integridade. Tem como garantias sua bondade natural, sua felicidade, sua constância. (LA BOÉTIE, 2009, p. 69)

E, por isto mesmo, é que não é possível haver amizade a partir daqueles e entre aqueles que são cruéis, desleais e injustos. Como ensina o filósofo: “Quando os maus se reúnem há uma conspiração, não uma sociedade. Não se amam, não se temem. Não são amigos, mas cúmplices”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 69)
Não seria possível encontrar um amor sincero em um tirano, pois já encontrando-se “acima de todos e não tendo companheiros, já está além dos limites da amizade. Esta floresce na igualdade, desenvolve-se sempre igual e nunca pode claudicar”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 69)
Os favoritos do tirano não podem contar com ele porque aprenderam que ele pode tudo, que não está sujeito a nenhuma obrigação e a nenhuma lei, mas tão somente à sua própria vontade e, por fim, não têm nenhum companheiro, pois é senhor de todos.
Com estas colocações, o filósofo lamenta que, “com tantos exemplos evidentes, sabendo que o perigo está tão presente, ninguém queira tirar a lição das misérias de outros e que tantas pessoas se aproximem ainda tão naturalmente dos tiranos?” (LA BOÉTIE, 2009, p. 69)

Mostrar sempre um rosto sorridente quando o coração está apreensivo

Ainda se referindo aos bajuladores, La Boétie (2009, p. 70) inicia a seção considerando que estes aproximam-se do tirano sem se darem conta de sua própria consumação. No entanto, se conseguirem livrar-se do senhor a que serviam, caem nas mãos do novo rei: “Se for bom, é preciso então lhe prestar contas e submeter-se finalmente à razão. Se for mau como o seu antecessor, não pode deixar de ter também seus favoritos que, geralmente, não contentes em ocupar o lugar dos outros, tiram-lhes também, na maioria das vezes seus bens e suas vidas”.
Como a situação não é de amizade, pois baseada na desconfiança, o filósofo entende que ela é o castigo e martírio que pode haver, pois há de se passar dias e noites “imaginando maneiras diferentes de agradar” ao tirano, bem como manter-se alerta e suspeitar de todos, além do mais, fingir sobriedade e sorrir quando a situação é de apreensão e medo. Não pode estar alegre, nem ousar estar triste. (LA BOÉTIE, 2009, p. 71)
Já em conclusão de suas ideias, o filósofo afirma que “É realmente um prazer considerar o que lhes reverte desse grande tormento, e ver o bem que podem esperar dos sofrimentos de uma vida tão miserável”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 71) Compreendendo a vida que levam, os oprimidos aprendem que “geralmente, não é o tirano que o povo acusa do mal que sofre, mas aqueles que o governam”. E continua relatando que são eles conhecidos e recebem do povo insultos, maldições e o escárnio, mesmo depois de sua morte, “as gerações seguintes nunca são tão indolentes que não deslustrem de mil maneiras os nomes desses devoradores de povos com a tinta de mil penas e destrocem sua reputação em mil livros”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 71)
Em seu encerramento, o filósofo conclama a aprendermos a fazer o bem, a agradecermos, para a nossa honra ou por virtude, a Deus e diz acreditar que Ele reserva aos tiranos e seus cúmplices um castigo especial, “pois nada é mais contrário a um Deus bom e clemente que a tirania”. (LA BOÉTIE, 2009, p. 72)


Bibliografia Consultada e Referência Bibliográfica

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia: ensino médio, volume único. São Paulo: Ática, 2010, p. 507.

LA BOÉTIE, Étienne. Discurso da servidão voluntária: texto integral. Tradução Casemiro Linarth. São Paulo: Martin Claret, 2009, p. 72. (Coleção a obra-prima de cada autor; vol. 304)

OLIVEIRA, Eleusa Gomes de. A Servidão Voluntária: resumo. Universidade Estadual de Goiás. Goiás, 2006. Disponível: Acesso em: 6 de ago. 2011.

Sítios na internet:

http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tienne_de_La_Bo%C3%A9tie. Acesso em: 27 jul. 2011

http://sturmydrang.blogspot.com/2008/03/resenha-do-discurso-da-servido.html. Acesso em: Data: 29 jul 2011.
http://pinininho.blogspot.com/2008/06/resumo-do-discurso-da-servido-voluntria.html. Acesso em: 29 jul 2011.
http://aeradopanoptico.blogspot.com/2010/12/resenha-discurso-da-servidao-voluntaria.html. Acesso em: 29 jul 2011.
http://www.esdc.com.br/CSF/artigo_2007_11_Boetie.htm. Acesso em: 29 jul 2011.

sábado, 5 de novembro de 2011

Falácias ou Sofismas.


Tipos de Sofismas ou Falácias.
José Rogério de Pinho Andrade  
A argumentação é uma forma de convencer da verdade de modo legítimo e correto. No entanto, também existem formas de convencimento a partir de argumentações incorretas ou ilegítimas. Tais formas nos convencem, mas não necessariamente da verdade e recebem o nome de falácias ou sofismas.
Em seu livro “Aprendendo Lógica” Cleverson Bastos e Vicente Keller nos ensinam que Sofismas (alusão nem sempre justa à sofística grega) ou falácias “são raciocínios que pretendem demonstrar como verdadeiros argumentos logicamente falsos. Sua eficiência consiste em transferir a argumentação do plano lógico para o psicológico ou lingüístico, servindo-se da linguagem, que pode ser usada tanto de modo expressivo como de modo informativo, visando assim despertar emoções e sentimentos que dão anuência a uma conclusão, mas não convencem logicamente.” (1994, p. 22)
No livro “Filosofando: uma introdução à filosofia”, encontramos o seguinte entendimento do que seja uma falácia: “é um tipo de raciocínio incorreto, apesar de ter a aparência de correção. É conhecido também como sofisma ou paralogismo...” (2003, p. 105)
A classificação adotada por Maria Lúcia de Arruda e Maria Helena Pires Martins (2003) divide as falácias em dois grupos: em formais ou não-formais. No primeiro caso, quando elas contrariam as regras do raciocínio correto, no segundo caso, quando, inadvertidamente ou por falta de atenção, somos iludidos por meio da linguagem usada para formular o argumento.
Para Bastos e Keller (1994) as falácias podem ser reunidas em dois grupos: o lógico e o lingüístico. No grupo lógico, a falácia está relacionada com a transferência para o plano psicológico. No segundo caso, isto é, no grupo lingüístico, “trata-se da transferência do plano lógico para o plano das funções dialógicas da linguagem.” (p. 28)
Fazem parte do grupo lógico as seguintes falácias:
a)     Conclusão Irrelevante: quando se conduz a argumentação para uma conclusão que não é garantida pelas considerações em questão. Conclui algo que “não tem nada a ver com o contexto em questão. A intenção é confundir o interlocutor”.
Por exemplo: Para incriminar alguém, o advogado trata de falar do horror do crime sem considerar os atenuantes e as exceções que possa haver em cada caso.
b)    Petição de Princípio: quando se pressupõe como certo o que deveria ter demonstrado.
Por exemplo: A cegonha existe? – Ora, se não existisse você não estaria aqui!
c)     Círculo Vicioso: tanto o ponto de partida quanto a conclusão, carecem de demonstração. Um é demonstrado pelo outro, formando assim um círculo.
Por exemplo: A inflação corrói o poder aquisitivo dos salários, portanto estes precisam ser aumentados. O aumento de salários, por sua vez, gera a necessidade de aumento de preços, portanto, de inflação.
d)    Falsa Causa: consiste em atribuir a um fenômeno uma falsa causa ou concluir como sendo causa dele aquilo que somente o antecedeu. Está relacionado com fatores ideológicos ou míticos, à superstição.
Por exemplo: Espelho quebrado causa sete anos de azar; a AIDS como fruto da liberação sexual e correspondente à decadência dos valores.
e)     Causa Comum: quando dois acontecimentos relacionados entre si são tomados como causa do outro, sem considerar que ambos são causa de um terceiro.
Por exemplo: É comum se considerar que a televisão é culpada pela decadência moral da sociedade, sem levar em conta que tanto a programação como os próprios valores morais são frutos de outros fatores, tais como idéias filosóficas, disputa de poder, interesses econômicos-políticos, etc...
f)     Generalização Apressada: acontece quando se atribui ao todo o que é próprio de uma parte. É o caso em que a exceção é considerada como regra.
Por exemplo: Os preconceitos e piadas que discriminam pessoas por pertencerem a um grupo qualquer.
g)    Acidente: acontece quando se recorre a regras gerais, não levando em consideração as possíveis exceções às quais a regra não se aplicaria. Trata-se de atribuir a um caso particular regras gerais, isto é, considera-se essencial aquilo que é somente acidental.
Por exemplo: Quando se julga ou tenta-se prever o comportamento de um indivíduo com base no comportamento que a maioria teve frente à dada situação.
h)     Contra o homem (Ad hominem): consiste em atacar diretamente a pessoa em questão ou atacá-la pela circunstância especial em que ela se encontra ao invés de refutá-la em seus pontos de vista.
Por exemplo: As campanhas políticas.
i)      Recurso à força: consiste em recorrer à força ou à ameaça do uso da força na tentativa de convencer alguém.
Por exemplo: Negociação salarial, pressão na sala de aula.
j)      Apelo à ignorância: baseia-se na suposição de que uma tese é verdadeira ou falsa, porque ainda não se demonstrou claramente a sua contrária.
Por exemplo: Como não há conhecimento e registro de transmissão de AIDS em consultório dentário, se conclui que não há risco de contaminação, pois, embora a saliva contenha vírus, sua concentração é baixa, o que não representa perigo.
k)     Apelo à piedade: é a utilização da chantagem emocional, para forçar a adesão de alguém a certo ponto de vista. É induzir à compaixão para conseguir o intento que se pretende.
Por exemplo: Algumas atitudes dos pais quando falam que fazem de tudo para satisfazer os filhos; o advogado que apela para a condição do réu.
l)     Populismo: tenta atingir a massa. Busca conseguir a concordância da multidão para o que se intenta, valendo-se de outras falácias principalmente jogando com a vaidade, sentimentos de patriotismo, status, auto-estima.
Por exemplo: Campanhas Publicitárias. “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
m)   Apelo à autoridade: é válido para sustentar uma posição apelar para o testemunho de alguém, que se constitui como autoridade reconhecida no específico campo de conhecimento a que tal posição se refere. Mas, valer-se do testemunho de outrem pelo simples fato de ser uma autoridade, é cometer a falácia do recurso à autoridade.
Por exemplo: Artistas que se valem de sua imagem para vender remédios.
n)     Pergunta complexa: pela combinação de duas ou mais perguntas em uma só, procura-se confundir o interlocutor que, sem se aperceber, responde apressadamente a tal pergunta que admite duas respostas distintas.
Por exemplo: Um repórter que pergunta a um homem acusado de roubo: “Você está arrependido do que fez?” Se o acusado responde que sim, confessa o delito. Se responder que não, também confessa e não se mostra arrependido.
          As falácias do grupo Lingüístico se referem à transferência do plano lógico para o plano das funções dialógicas da linguagem.
          Na comunicação entram fatores que podem servir para transmitir um conteúdo intelectual, exprimir ou ocultar emoções e desejos, hostilizar ou atrair pessoas, incentivar ou inibir contatos e, ainda, evitar o silêncio. A atribuição de uma mensagem depende de saber previamente para qual dos fatores ou funções ela se destina.
           O que constitui sofisma ou falácia é servir-se erroneamente destas funções para o convencimento de alguém. São elas:
a)     Equívoco: trata-se de utilização de uma mesma palavra, que tem sentidos diferentes para coisas diferentes. Consiste em utilizar-se de um termo que, por ser polivalente, pode provocar no ouvinte, intencionalmente, uma representação mental diversa, levando-o a concluir falsamente.
Por exemplo: Um elefante é um animal; portanto, um elefante pequeno é um animal pequeno.
b)    Ênfase: ao utilizar-se da linguagem, alguém poderá fazê-lo de três maneiras diferentes: pode ser usada simplesmente para veicular um contexto, pode ser acentuada em alguma ou algumas de suas palavras para produzir no receptor uma compreensão sobre o estado psicológico de quem fala, que deste modo, tenta angariar a anuência dos outros para o seu objetivo. A palavra ou palavras acentuadas visam intimidar sutilmente o receptor, semelhante à falácia do recurso à força.
c)     Anfibologia: ocorre quando se argumenta a partir de premissas cujas formulações são ambíguas em virtude de sua construção gramatical. Um enunciado é anfibológico quando seu significado não é claro, pelo modo imperfeito ou confuso como suas palavras são combinadas.
Por exemplo: Creso, rei da Lídia, planejava atacar o reino da Pérsia e, ao consultar o oráculo de Delfos, recebeu a seguinte resposta: “Se Creso declarar guerra à Pérsia, verá a destruição de um grande exército...” Creso declara a guerra e é vencido. Ao queixar-se ao oráculo, obtém a explicação de que o grande exército era o seu.
d)    Composição: trata-se de um conflito verbal entre as propriedades de classes diferentes que somente podem ser atribuídas sucessivamente e não simultaneamente. Ignorar tal distinção é cometer a falácia de composição. A falácia é cometida, Por exemplo, ao se atribuir ao todo e às partes propriedades simultâneas.
Por exemplo: O fato de a fotografia das cenas de um filme ser perfeita não autoriza classificar todo o filme como perfeito.
e)     Divisão: é o processo inverso da composição. Trata-se de atribuir a uma classe dois predicados que lhe cabem simultaneamente, mas não sucessivamente.
Por exemplo: ao se afirmar que os homens estão desaparecendo porque os índios estão desaparecendo e são homens.
 Rogério Andrade