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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O que é Política? - Hannah Arendt


O que é Política? – Hannah Arendt
José Rogério de Pinho Andrade

O texto inconcluso de Hannah Arendt “O que é Política?” é aqui tomado como uma referência introdutória para o assunto. Seu caráter reflexivo nos aponta caminhos para entendimento da coisa política e do seu trato em nossos dias. Direta em sua abordagem do que é a coisa política e qual o seu sentido, ou se faz algum sentido? A destacar algumas idéias fundamentais.
     A primeira delas é a compreensão de que a política se dá entre os homens, sendo, deste modo, produto e produzida pelos homens em suas diversas inter-relações. Para a autora, não há “nenhuma substância política original” (p.23). Ela se apresenta como relação do homem para com os outros, iguais ou não, e do homem com o seu espaço. Dá-se, portanto, no plano da História. Precipuamente “a política organiza, de antemão, as diversidades absolutas de acordo com uma igualdade relativa e em contrapartida às diferenças relativas.” (p.24)
Outra idéia destacada do texto, diz respeito á consideração quanto á relação dos preconceitos e dos juízos na política. Ela parte da existência dos preconceitos como sinal de algo já político, isto é, para ela os preconceitos indicam a presença entre nós de algo político, embora, “confundem aquilo que seria o fim da política com a política em si.” (p. 25) No entanto, é na condição do juízo que a autora vislumbra a política propriamente dita, pois, são eles que nos auxiliam no esclarecimento e dispersão dos preconceitos e “o pensamento político baseia-se, em essência, na capacidade de formação de opinião.” (p. 30) É por meio dos juízos que se possibilita a manifestação da coisa política como reflexão dos próprios atos humanos.
Um terceiro ponto destacado diz respeito ao sentido que possa possuir a política. Esse sentido para Hannah Arendt é a liberdade.
A liberdade é o espaço próprio onde se pode esperar a realização de milagres, pois “os homens enquanto puderem agir, estão em condições de fazer o improvável e o incalculável e, saibam eles ou não, estão sempre fazendo.” (p. 44) Então, a liberdade é a condição de ameaça e de salvação do homem. No primeiro caso, devido à ameaça de destruição que o espaço moderno da política consolidou; de salvação porque é neste mesmo espaço que se vislumbra a possibilidade de não se por a termo os propósitos e se tentar estabelecer uma superação, também política, dos conflitos, pois, “a tarefa e objetivo da política é a garantia da vida no sentido mais amplo.” (p. 48)
Tão ou mais do que a igualdade, é o espaço da política próprio para a promoção da liberdade. Segundo a autora, o que é mais assustador nas formas do Estado Totalitário, é a “concepção segundo a qual a liberdade dos homens precisa ser sacrificada para o desenvolvimento histórico, cujo processo só pode ser impedido pelo homem quando este age e se move em liberdade.” (p.51) É também no espaço de liberdade que se dá a condição de igualdade, pois é o espaço político comum a todos nós. Conforme o pensamento da autora, a liberdade do falar um com o outro “só é possível no trato com os outros” (p. 59) e “só na liberdade de falar um com o outro nasce o mundo sobre o qual se fala, em sua objetividade visível de todos os lados.” (p. 60)
A liberdade não se confunde com a política, mas é o seu pressuposto, sendo esta ultima um meio e a primeira um objetivo. Deste modo, a pergunta sobre o sentido da política nos dias de hoje diz respeito à conveniência ou inconveniência dos meios públicos da força, do exercício político do Estado, isto é, a força que devia proteger o homem hoje o ameaça de extermínio, pois “onde a força, que é um fenômeno do individuo ou da minoria, liga-se ao poder, que só é possível entre muitos, surge um aumento monstruoso do potencial da força – por sua vez, provocado pelo poder de um espaço organizado, ma que depois, como todo potencial de força, aumenta e se desenvolve às custas do poder.” (p. 79)

Rogério Andrade

ARENDT, Hannah. O que é Política? 3ª Ed. Trad. Reinaldo Guarany. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 21 a 85.